Sobre Antonieta, Pinturas e Lembraças



Cheguei do colégio cedo e corri direto pra casa da minha avó.
Ela não estava lá. O que era estranho.
Nós tínhamos uma rotina quase certa de colégio, casa da vó, Sem Censura, comidas, conversas e subida pra casa.
Minha mãe sempre sabia onde me encontrar. Mesmo se eu fugisse após a janta.

Ao invés dela, encontrei tios, tias e um silêncio que não fazia parte da casa. Todos com um olhar preocupado, alguns chorando. Alguns eu só lembrava de fotos antigas. Nem me viram entrar.
Fiquei parada encostada na parede da sala dela sem saber o que acontecia, mas na minha pouca idade não havia outra resposta. Descobri o que era a morte ali. Com 8, 9 anos.

Corri os degraus acima até o nosso apartamento, porta adentro e me joguei contra a parede. Por uns 2 minutos fiquei ali. Parada. Sem conseguir respirar direito. Virei para a moça que cuidava de mim e disse: Minha avó morreu. Ela já sabia, só não esperava que eu soubesse.

Repassando isso agora, não lembro muito bem de nossas conversas, mas lembro de algumas coisas que fizeram minha avó ser única.

Lembro das poesias que ela escrevia e lia. Do ritual que tinha antes e depois de pintar. Do limpar dos pincéis. Do encontrar do azul ao verde de uma forma tão sutil que quase os faziam irmãos. De esperar o quadro secar. Da coleção de revistas Destino. Da disposição do quarto dela e de seus óculos que apesar das correntes, nunca estavam pendurados no pescoço.

Dos quadros que preenchiam a sala de estar.. Da cadeira de balanço onde ela sentava e do sofá ao lado, onde me deitava após a aula esperando ela terminar o que fazia. Dos quadros dela que me faziam imaginar histórias e quem morava em cada casa que ela pintava.

Do quadro que tinha as marcas dos meus dedos fazendo o trajeto do carro que deveria passar por lá.
Lembro do som da voz dela.. apesar de lembrar de poucas frases. Do cheiro de casa de vó.. que nunca mais foi igual. Chorei por muitos anos, por esquecer as lembranças que tinha.

"Quando você for maior, vou te ensinar a pintar"- Ela disse e eu sorri. Sem saber que o tempo iria contra os nossos planos.

Ela era a avó Nieta para tantos e a Vó Nieta pra mim.
E cada vez que me chamavam de Nietinha eu sorria, recebendo o enorme peso do nome dela, feliz.

Olhando pra trás eu fico pensando no quanto afetamos as pessoas...no legado que deixamos.
Eu tinha a idade que meu sobrinho mais novo tem hoje, quando ela se foi.
Pensar nisso me faz querer ser uma pessoa melhor. Pra eles, o Dani e o Caio, se lembrarem de mim.
E que ao lembrar, eles carreguem um sorriso no rosto.

Como estes abaixo...tios, tias e mãe.. :)

(Não tem todos.. )



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