I'm Leaving On A Jet Plane

Voltar de viagem sempre nos deixa com uma sensação amarga na boca. Alguns artigos indicam que a depressão pós-férias atinge mais de 23% da população e está se tornando algo cada vez mais comum.
Ok. Minhas últimas férias foram em março de 2015 e foram um sonho realizado! Não tem tanto tempo, eu sei, mas desde então o gosto na boca não foi embora. Esperei, esperei e esperei mais um pouco. Dias, semanas, meses passaram e nada. Continuei com a sensação de que nada andava e que estava no lugar errado.

Não me leve a mal. Óbvio que tentei aproveitar cada dia deste ultimo ano. O máximo (dentro da minha realidade introvertida) possível. Conheci gente nova, trabalhei pra cacete, assumi projetos novos, dentro deles um livro. Retomei velhas amizades. Cortei a cerveja, reencontrei o vinho. Larguei o vinho, voltei pra cerveja. Tive insônia. Sonambulismo. Bruxismo. Fui louca.. fui ao extremo. Tive diversas crises de ansiedade. Fui pra boteco reencontrar amigos, reencontrar verdades, falar da vida, de Foucault, de Platão e de Valeska Popozuda.

Fui em shows de fado, de samba, de MPB e até de charme. Fui em exposições, andei sozinha sem rumo, andei acompanhada sem rumo, andei brigando ao telefone, e fazendo juras de amor. Escrevi prosas, poemas, escrevi msgs no whatsapp e em guardanapos de bar.

E no meio de tudo isso, fiz 30 anos.

E me olhei no espelho. Revi todos os passos que tomei na vida e contei meus diversos cabelos brancos. Repassei mentalmente a lista que havia feito aos 16 anos e fui dando check em tudo que já havia realizado. E de fato realizei muito sem nem perceber. "Casei", tive minha filha, uma família e casa própria. Fiz uma faculdade pública (mas não terminei). Hoje, apesar de não ter mais minha família, sou independente, moro sozinha, tenho um emprego fixo numa ótima empresa, viajei pros lugares que sempre sonhei viajar e tudo isso aconteceu antes dos 30.

Minha vida, por outro lado, é diferente do que havia planejado pra mim, mas as metas que eu tinha, eu atingi. Não me arrependo de nada que foi feito, mas claro, se pudesse evitar algumas dores, de fato o faria. Mas o que é, nem sempre, óbvio é que tudo que passei faz de mim quem eu sou hoje. E sou grata por isso. Eu tenho uma visão completamente diferente da vida.

Por isso, por estar há 5 anos no mesmo emprego, na mesma rua, na mesma casa, na mesma vida, decidi que basta. Que é o suficiente. Que espremi todos os limões que a vida me deu aqui e preciso de mais. De algo novo, de algo diferente, de me arriscar. De correr muito atrás de algo e não sentar tranquila no comodismo da certeza. Porque já tenho tudo que preciso aqui. E sou grata por tudo que batalhei pra alcançar. Mas quero mais. Quero outra vida. Quero uma nova faculdade. Numa área que peça mais de mim. Quero novas metas e novos objetivos. Quero um novo pôr do sol. Um novo entardecer à Ribeira. Um novo show de fado e vinho do Porto. Uma janela nova, com ou sem vista. Quero não reclamar dos mesmos problemas daqui a 5 anos. Quero um amor, uma família. Um emprego novo. Um mestrado. Quero um mundo de possibilidades infinitas.

Quero a possibilidade de começar do zero. Limpo. Fresco. Novo.

Por isso estou indo. De malas prontas, livros empacotados, deixando muito amor pelas minhas irmãs queridas, sobrinhos amados e pais adorados, eu vou. Levando amigos queridos no peito. Vou sem olhar pra trás. Sendo grata por tudo e focando em todas as novas metas. Tentando fazer caber 5 anos em 2 malas. Acredite, é difícil.

Aprendi neste último ano que só ser legal não basta. Quero o espectacular. E não aceito nada menos que isso.

Lisboa, te vejo em 29 dias. Seja doce.

"Mas tudo bem

O dia vai raiar

Pra gente se inventar de novo"